Tempo da Gravura 2

Abertura da Exposição Coletiva do Ateliê Livre de Gravura: TEMPO DA GRAVURA

Evento

: Centro Cultural UFG - CCUFG. Av. Universitária, 1533, Setor Universitário. CEP: 74001-970. Goiânia - GO.

: 20 de Abril 2023 - 19h às 22h

O Centro Cultural UFG (CCUFG) tem o prazer de apresentar a exposição coletiva "Tempo da Gravura", promovida pelo Ateliê Livre de Gravura. O evento acontecerá na Galeria do CCUFG e abertura oficial será realizada no dia 20 de abril de 2023, às 19h. A exposição é gratuita  e estará aberta ao público de 25 de abril a 12 de maio de 2023, de terça a sexta-feira, das 09h às 12h e das 14h às 17h.

 

Tempo da Gravura

 

Texto da Curadoria

A exposição que agora se projeta como um novo desafio para o grupo Ateliê Livre de Gravura é um ensaio que apresenta a gravura em sua complexidade, com técnicas diferenciadas que se integram e se complementam em diferentes poesias e subjetividades.

A mostra tem a questão do “Tempo” desenvolvido no processo de gravação, reflete sobre a gravura como técnica milenar que continua reverberando entre os procedimentos artísticos contemporâneos. Trata-se de um fazer pensante mediante diversidade de possibilidades, com sua magia, alquimia, ferramentas e ateliê de trabalho.

A gravura e suas etapas de construção nos integram à nossa humanidade, por meio do processo de criação, reflexão e experimentação, proporcionando significativas ações de gravar, entintar e imprimir conforme suas linguagens gráficas tradicionais.

Gravadoras e gravadores se localizam em meio aos cadernos de anotações (ou cadernos de artista/ gravador), diários de bordo, manuais, receitas, poesias, lembretes, colagens, testes, esboços, anotações de ideias e resultados de experimentos. Tudo que foi pensado e que está anotado tem conexão com a materialidade das ferramentas, das prensas, dos químicos, das matrizes e suportes.

No “Tempo da Gravura” há um laboratório imaginário, uma lacuna de espaço/tempo, onde o passado e o presente convivem dentro de um lugar de pensar e fazer. Nesse espaço entre o pensamento e o fazer não existe o tempo da urgência, ou, talvez, esse espaço separadamente, como ausência, nem exista e poderíamos denominar “tempoespaço” do “pensarfazer”.

Percebe-se com isso a relevância de nos sensibilizarmos para saberes técnicos, manuais, artesanais em contraponto à pressa por resultados, numa sociedade ansiosa e adoecida pelo excesso e rapidez das coisas. No entanto, consideramos as reflexões sobre atuais formas de impressão impulsionadas pelas tecnologias mecânicas e digitais, as quais alargam o conceito de reprodutibilidade técnica criado por Walter Benjamin e questionam sobre a suposta democratização da arte.

Diante de tais inquietações, vimos que o tempo vem corroendo os conceitos e os limites do processo da gravura. A matriz se transmuta em autonomia com linguagem própria e diversa. As impressões adquirem novas faces, não se obrigam às tradicionais tiragens. Matrizes e impressões se descolam entre si, libertam-se, ambas frequentam universos digitais e elevam suas possibilidades reprodutivas ao infinito.

O “Tempo” no decurso de criação com gravura também é visto como elemento corrosivo, este é produtor de ferrugens tintórias, de solos, de rochas e espaços côncavos que modificam e esculpem a vida, cotidianamente. Retrocedendo à origem da matéria, ele
esculpe as pedras litográficas, as árvores para xilogravura, as plantas para papéis, os metais e até mesmo a matéria prima dos químicos, das matrizes de plástico e das tintas. Aliado à natureza, aparentemente de forma lenta, ele faz brotar, regar, ramificar, frutificar, alimentar e semear, completando ciclos, reproduzindo entre ação e espera, nele aprendemos a refletir e ponderar sobre os resultados. Vagarosamente o tempo transforma os espaços e as pessoas.

Assim, temos a falsa ilusão de controle, de precisão, mas o tempo é um sal ou um ácido que ataca a estabilidade das coisas.

Mesmo no manuseio das técnicas tradicionais, para o Ateliê Livre de Gravura é importante considerar processos híbridos entre o “velho” e o “novo”, expandindo para além do ateliê como espaço físico, constituindo a “gravura” como linguagem, ou como palavra que abrange diversas linguagens resultantes de impressões com matrizes de relevo, matrizes de côncavo, matrizes permeáveis, matrizes planas e demais possibilidades, onde as etapas – gravação, entintamento e impressão – proporcionam diálogos únicos, singulares entre si. Estes em conversa com diferentes poesias, resultantes de pesquisas e experimentações.

Entre o grupo, a gravura se torna um elemento de interação de subjetividades, o elemento meio. O Ateliê Livre de
Gravura considera que toda alquimia gerada em seus processos experimentais são atravessados pelos pensamentos, o fazer é filosófico, nele é preciso morosidade onde há tempo para o “erro” e para refletir sobre as descobertas contidas nele. Para isso, é preciso o tempo da espera, das corrosões, do refazer, do reimprimir e da volta. Nesse vai e vem, a gravura permite que cada um seja uma espécie de “matriz perdida”, onde a vida imprime, o tempo grava em movimentos de “espelhar” e “espalhar” mundo afora. O tempo modifica essa matriz, cria camadas sobrepostas que se reconfiguram sempre nessa humanidade. Elas são sobrepostas e saltitantes, cada uma é viva e se refaz, não tem lógica hierárquica. Assim, as camadas que chegam à superfície geram surpresas ao infinito.

Adriana Mendonça - Ateliê Livre de Gravura, 2023.