
“Bora Pra Labuta?”
Com humor afiado e crítica social, o espetáculo “Malagueta na Labuta” encantou o público do Centro Cultural UFG ao unir palhaçaria feminista e reflexões sobre desigualdade de gênero.
Texto: Iasmin Feitosa

Com um carisma transbordante e um domínio cênico raro, Fernanda Pimenta, em sua personagem Malagueta, entrega ao público muito mais do que um espetáculo de palhaçaria: ela oferece uma experiência sensível, política e profundamente cativante. “Malagueta na Labuta”, apresentado no Centro Cultural UFG no dia 2 de abril, é um solo que une humor e crítica social, tocando públicos de todas as idades com graça e coragem. A protagonista Malagueta é dessas figuras que marcam a memória afetiva do espectador. Espontânea, ela é capaz de arrancar gargalhadas e, ao mesmo tempo, provocar reflexões profundas sobre a realidade das mulheres trabalhadoras, invisibilizadas e muitas vezes silenciadas. A força da atuação de Fernanda Pimenta — que também assina a criação do espetáculo — está na sua habilidade de transformar temas árduos, como a desigualdade de gênero e a violência contra a mulher, em cenas de palhaçaria acessíveis, afetuosas e críticas.
Um dos pontos altos do espetáculo é sua capacidade de engajamento: crianças e adultos são chamados a participar, a responder bordões e a se reconhecer nos gestos da palhaça. Como comentou o palhaço Biribinha, “a comunicação entre a palhaça e o público foi perfeita”, e não é exagero dizer que Malagueta conquista corações já nos primeiros minutos. O espetáculo também brilha pelo cuidado técnico e estético: a sonoplastia, assinada por Felipe Xico, é envolvente e pontual, criando atmosferas que conduzem o público pelas emoções da trama com leveza. O uso do audiovisual é igualmente elogiável: imagens, efeitos e trilha dialogam diretamente com a cena, sem sobrepor ou distrair, mas reforçando a narrativa de forma orgânica.
Com circulação por nove cidades brasileiras, a montagem também se destaca por sua preocupação com acessibilidade e inclusão, garantindo intérpretes de Libras e estrutura adaptada para cadeirantes. Essa atenção revela o compromisso do projeto com a democratização da arte.
“Malagueta na Labuta” é, enfim, um espetáculo necessário: faz rir e pensar, emociona e educa, com o brilho raro de quem sabe usar a arte como ferramenta de transformação. Fernanda Pimenta reafirma, com talento, a potência da palhaçaria feminina e feminista no Brasil contemporâneo. Uma obra que merece ser vista, vivida e celebrada.
Iasmin Feitosa é estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Goiás e estagiária de comunicação no Centro Cultural UFG. Atua com produção de conteúdo e cobertura jornalística de eventos culturais.