Seminário Trançando Gênero- Visibilidade Lésbica

Arte e afeto em pauta no mês da Visibilidade Lésbica

Evento Trançando Gênero cria espaço de resistência e afeto para dar voz a trajetórias silenciadas e celebrar a diversidade

 

Por: Mateus dos Santos

O Seminário Trançando Gênero 2025 já movimenta a Universidade Federal de Goiás com uma programação diversa. Desde o dia 23 de agosto, o evento convida o público a refletir sobre o tema “Visibilidade Lésbica”, trazendo rodas de conversa, performances, espaços de escuta e uma exposição inédita que valoriza memórias e narrativas lésbicas em diferentes contextos.

A mostra “Arquivo Lésbico e suas Grafias”, com curadoria de Ralyanara Freire, abriu a programação reunindo fotografias, lembranças e escritas enviadas por mulheres e pessoas lésbicas. Exposta na Sala de Exposições de Curta Duração Irmhild Wust, no Museu Antropológico da UFG, a iniciativa já se tornou um ponto de encontro para quem busca conhecer histórias e afetos que resistiram ao silenciamento.

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Ralyanara Freire na abertura da Exposição "Arquivo Lésbico" no Museu Antropológico

 

O ponto alto do seminário será no dia 29 de agosto, Dia da Visibilidade Lésbica, com atividades concentradas no Teatro do Centro Cultural UFG. Ao longo do dia, o público poderá participar do tradicional Café Delas, de mesas de debate com pesquisadoras e militantes e da performance “Para quebrar o armário de cristal – Manifesto sapatão”, que encerra a programação com arte e denúncia.

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Momentos do ensaio para a performance “Para quebrar o armário de cristal – Manifesto sapatão”, na imagem Camila Leopoldina

 

Discutir visibilidade lésbica em 2025 significa enfrentar desigualdades ainda presentes e, ao mesmo tempo, celebrar trajetórias de resistência. Em um cenário social marcado por avanços e retrocessos no campo dos direitos humanos, o Trançando Gênero reafirma a importância de criar espaços de protagonismo. Para entender mais sobre a concepção da mostra e a potência de tornar visíveis essas histórias, conversamos com a artista visual e curadora da exposição, Ralyanara Freire.

Mateus dos Santos: Como surgiu a ideia da exposição "Arquivo Lésbico e suas Grafias" e de que forma ela dialoga com o tema do Seminário?

Ralyanara Freira: A exposição foi organizada em diálogo com o tema central do seminário, que é visibilidade lésbica. A ideia principal era trazer para a discussão as possibilidades de grafar a vida lésbica em sua multiplicidade, de maneira a visitar os arquivos que as mulheres lésbicas mantêm em suas casas, em suas vidas... Assim, a exposição buscava evidenciar esses arquivos, criando grafias.

O acervo foi construído a partir de fotos, lembranças e escritas enviadas por pessoas lésbicas. Como foi o processo de coleta e curadoria?

Ralyanara Freire: A parte principal da exposição foi construída a partir de uma chamada pública, feita no instagram e no whatsapp. O convite era para que pessoas lésbicas enviassem suas fotos, não importando a qualidade da imagem, mas sim o conteúdo: precisava ser fotos de si. Esse foi um processo empolgante, porque um dos objetivos era alcançar e conhecer diferentes pessoas lésbicas. Mas, também foi desafiador em termos técnicos: lidar com acervos de diferentes pessoas, lidar com depoimentos, com expectativas. As sensibilidades foram afloradas. Observar o próprio acervo é também olhar para si, para trajetórias, para prazeres, para afetos e também violências sofridas

O Centro Cultural também conversou com Luciene Dias, professora do curso de jornalismo da UFG e uma das organizadoras do "Trançando Gênero". Ela destaca a grande importância da roda de conversas do dia 29, para uma ação efetiva e troca de experiências focando em uma melhor qualidade de vida para pessoas lésbicas. Confira um pouco da nossa conversa com a Luciene.

O dia 29 de agosto será o ponto alto do Seminário, com debates e performances. Qual a sua expectativa para este momento?

Luciene Dias: O ponto alto do seminário, sim, é o dia 29, porque 29 de agosto é o dia da visibilidade lésbica, e a grande intenção do evento é projetar essa identidade, para que juntas nós possamos pensar em alternativa para o bem viver. O que as lésbicas buscam é o bem viver. A mesa de abertura traz a Eide Paiva, que é uma grande liderança lésbica nacional. O objetivo é mobilizar as pessoas lésbicas goianas, no sentido de discutir quais são nossos direitos, compartilhar experiências e promover o bem viver. Nosso objetivo é nos encontrar numa roda de confiança e, a partir desse encontro, propor, elaborar e modificar a sociedade que, infelizmente, ainda é muito lesbofóbica. Então, essa mesa de abertura, que conta também com a presença da Karla Fernandes, quer juntar pessoas lésbicas para, juntas, a gente começar a entender quais são os processos pelos quais nós já passamos e propor coisas novas, propor um futuro um pouco mais alentador para essa população.

Que mensagem você gostaria de deixar para quem vai participar do evento ou para quem, de alguma forma, se reconhece nesse arquivo afetivo que a exposição reúne?

Luciena Dias: É exatamente em realizar a performance que está proposta. Essa performance está sendo elaborada por seis lésbicas. O texto da performance é meu, é produção minha. É um dos resultados do meu pós-doutorado esse texto, essa elaboração. E o objetivo da performance é sensibilizar para a necessidade da ação. A gente precisa atuar insistentemente para melhorar a qualidade de vida da população lésbica em Goiás. Enfim, esse é o evento. A gente espera casa cheia, lógico, a gente espera que o Centro Cultural UFG fique cheio de gente propositiva, de gente disposta à ação e mobilizada para provocar uma transformação para melhor.      

Promover um debate sobre a visibilidade lésbica em um espaço acadêmico e cultural como a UFG é fundamental para ampliar a escuta e fortalecer políticas de diversidade. O tema rompe silêncios históricos, evidencia desigualdades ainda presentes e, ao mesmo tempo, abre caminho para novas formas de reconhecimento e pertencimento. Mais do que um seminário, o Trançando Gênero 2025 se consolida como um espaço de reflexão crítica e celebração das identidades, contribuindo para uma sociedade mais justa e plural.

O Trançando Gênero 2025 se encerra no dia 29 de agosto, Dia da Visibilidade Lésbica, com uma programação que se estende do período matutino até a noite, no Teatro do Centro Cultural UFG. A programação é gratuita e aberta ao público, com classificação indicativa de 16 anos.

 

Programação do dia 29 de agosto:

- Café Delas

9h, Centro Cultural UFG

 

- Mesa de Abertura: Vidas lésbicas importam!

9h30, Teatro do Centro Cultural UFG

Conferencistas: Eide Paiva / Karla Fernandes / Luciene Dias

 

- Espiral de Experiências

14h, Teatro do Centro Cultural UFG

Coordenação: Marcela Amaral

 

- Para quebrar o armário de cristal – Manifesto Sapatão

19h, Teatro Centro Cultural UFG

Classificação Indicativa: 16 anos

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