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O Testamento de Afonso Quirino: teatro popular que celebra a diversidade e a cultura goiana

A narrativa une romaria, memória afetiva e inclusão para destacar a riqueza cultural e social de Goiás

Por: Mateus dos Santos

 

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Nos dias 08 e 09 de Setembro, às 20h, o Centro de Cultura UFG (CCUFG) recebe o espetáculo teatral “O Testamento de Afonso Quirino”, realizado pelo Núcleo de Altas Habilidades Corpo Cênico da Escola do Futuro em Artes Basileu França (Goiânia/GO). Com direção de Renata Weber e dramaturgia inédita de Hélio Fróes, a peça aposta em uma linguagem popular para resgatar raízes culturais de Goiás e discutir temas sociais urgentes com humor e sensibilidade. A entrada é gratuita.

Com quatorze artistas em cena, o espetáculo mistura manifestações típicas goianas, como quadrilha junina, sotaque, culinária e saberes tradicionais, com uma narrativa que aborda respeito às diferenças, religiosidades diversas, preconceito, amor e tolerância. Entre os destaques da história, está a cadela Coalhada, que ganha forma humana e narra as aventuras de Candinha e Marlon Quirino, filhos do finado Afonso Quirino, em uma romaria rumo a Trindade-GO para cumprir a promessa deixada em testamento.

Para entender mais sobre o impacto desse trabalho e seu processo de criação, conversamos com Dalton Sonassi, ator do Corpo Cênico Basileu França.

 

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Assessoria/Divulgação

Processo de criação e produção

Mateus dos Santos: O espetáculo traz uma estética marcada pelo teatro popular e por elementos culturais goianos. Como foi, para você, viver esse processo de criação e montagem?

Dalton Sonassi:  Fazer parte de um processo de criação tão rico em elementos populares e culturais do nosso estado se mostrou bastante prazeroso. Trabalhar com algo que nos perpassa culturalmente e que está presente de alguma forma no nosso cotidiano, permitiu com que eu me identificasse quase que instantaneamente com o espetáculo e, assim, colaborar de forma mais ativa no processo, trazendo referências das minhas vivências pessoais e coletivas para a composição do meu personagem, por exemplo.

Humor, crítica social e diversidade

Mateus dos Santos: A peça equilibra momentos de humor com reflexões sobre preconceito, respeito às crenças e diversidade. O espetáculo também dá visibilidade à comunidade LGBTQIAPN+, tratando do amor e da aceitação das diferenças. Como vocês pensaram essa abordagem para que fosse representativa, respeitosa e, ao mesmo tempo, acessível a diferentes públicos?

Dalton Sonassi: A abordagem contemporânea desses temas no espetáculo foi pensada para dialogar com diferentes faixas etárias através do uso de códigos universais - a música, o humor e as questões existenciais - e de uma linguagem cênica acessível, que mescla representatividade, crítica social e comicidade. Ao abordamos as questões de gênero e sexualidade e unirmos elementos do catolicismo e de religiões afrobrasileiras dentro de um único espetáculo repleto de outros elementos da cultura popular de Goiás, buscamos que o público reconheça que esses assuntos também fazem parte autêntica da identidade não só goiana, mas brasileira como um todo.

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Assessoria/Divulgação

Trabalho coletivo em cena

Mateus dos Santos: São treze artistas em cena, interpretando personagens singulares e cheios de identidade. Quais foram os maiores desafios e também as maiores riquezas de atuar em um espetáculo coletivo como este?

Dalton Sonassi: Conciliar e alinhar a agenda, a vida pessoal e as ideias de um grupo grande de pessoas não é uma tarefa fácil, mas que foi possível através dos diálogos e da união que nós temos enquanto grupo, não só entre os atores, mas com toda a equipe. Além disso, dirigir quatorze artores, especialmente quando estão todos em cena em determinados momentos, também é um desafio e tanto, mas posso dizer que nossa diretora conseguiu realizar essa tarefa com maestria.
Por outro lado, para além da quantidade, o fato de sermos muitos faz com que o grupo seja muito diverso, com pessoas de diferentes naturalidades, gêneros, sexualidades e religiões, o que torna o grupo em si um exemplo de toda a diversidade retratada no espetáculo. Cada um de nós tem uma vivência diferente com os elementos que compõem a cultura goiana, o que influencia diretamente no próprio processo de criação, permitindo que cada artista colabore de forma única com o processo de criação do espetáculo, deixando-o muito mais rico.

 

Impacto social e mensagem

Mateus dos Santos:Além de divertir, “O Testamento de Afonso Quirino” busca provocar reflexão e valorizar a cultura goiana. Qual mensagem você gostaria que o público leve para casa depois de assistir à peça — especialmente em relação à importância do respeito às diferenças e à inclusão social?

Dalton Sonassi:  Se ao assistir o espetáculo o público sair dele com a percepção ampliada do quão diversa, rica, bela e única é a cultura goiana e as pessoas que fazem parte dela, posso dizer que nosso objetivo foi alcançado e conseguimos fazer a diferença com nossa arte.

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Mais do que uma apresentação teatral, “O Testamento de Afonso Quirino” é um encontro com as tradições e os dilemas sociais do povo goiano, abordados com leveza, humor e emoção. Ao incluir discussões sobre religiosidade, amor, preconceito e diversidade, o espetáculo reafirma o poder do teatro como espaço de resistência, memória e transformação. É também um gesto de visibilidade e valorização da comunidade LGBTQIAPN+, mostrando como a arte pode abrir caminhos para a empatia e para o respeito.

O espetáculo será apresentado nos dias 08 e 09 de Setembro, às 20h, no Centro de Cultura UFG (CCUFG), em Goiânia. A entrada é gratuita e aberta a toda a comunidade. Uma oportunidade única de se divertir, se emocionar e se reconhecer nas histórias e valores que atravessam a nossa própria identidade cultural.

 

 

 

 

Mateus dos Santos Alves

Mateus dos Santos é estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Goiás e estagiária de comunicação no Centro Cultural UFG. Atua com produção de conteúdo e cobertura jornalística de eventos culturais.

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