
Triângulo Rosa: memória, resistência e arte LGBTQIAPN+ ganham voz em Goiânia
Mesa que resgata histórias silenciadas do teatro queer goiano, conectando passado e presente em diálogo com o público
Por: Mateus dos Santos
O Centro Cultural UFG recebe no dia 26 de setembro de 2025, às 17h30, a mesa “Triângulo Rosa: As Pontes entre o Orgulho e a Resistência”, com entrada franca. O encontro integra as ações do projeto Triângulo Rosa: Histórias e Resistência, que busca resgatar memórias silenciadas, refletir sobre censura, resistência e criação artística LGBTQIAPN+ no teatro goiano, promovendo diálogo entre história, arte e ativismo. A mesa contará com tradução em Libras realizada por Lua Xeya, garantindo acessibilidade para todos os públicos.
O projeto é coordenado pela pesquisadora Ravana Lobo e por Marcus Pantaleão, que conduzem a investigação sobre a produção artística LGBTQIAPN+ e sua relação com resistência e visibilidade. Ravana Lobo, premiada por apresentações dessa pesquisa em diversas capitais brasileiras e recentemente no Uruguai, lidera uma equipe composta por Maitê Alves, Paulo Vitor Ferreira, Serena Claus, Ana Flor, Luan Hikari e Tayguara Puri, que a partir de pesquisas históricas e experiências pessoais colaboram na criação de uma dramaturgia crítica e inovadora. A produção conta ainda com Paulo Vitor Ferreira, o design de Iuri Vaz e o apoio do Outback Passeio das Águas.
O projeto, contemplado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Secretaria de Cultura de Goiânia, reafirma seu compromisso com a diversidade, representatividade e preservação da memória LGBTQIAPN+ por meio da arte. O público terá a oportunidade de conhecer mais profundamente o processo de pesquisa e criação do projeto em uma entrevista exclusiva com Ravana da Silva Lobo, coordenadora do Triângulo Rosa, que compartilhará suas experiências, reflexões sobre censura, resistência e os desafios de construir narrativas artísticas inclusivas no teatro goiano.
História
Mateus dos Santos: O projeto “Triângulo Rosa” resgata memórias silenciadas do teatro LGBTQIAPN+ em Goiás. Como foi o processo de identificar essas histórias e por que elas continuam tão atuais hoje?
Ravana Lobo: O processo partiu da pesquisa em documentos de censura, pareceres oficiais e registros de peças teatrais barradas em Goiás durante a ditadura militar. Muitas eram acusadas de “imorais” ou de “teor homossexual”, o que evidencia como a repressão mirava não só a política, mas também a diversidade de corpos e afetos. Essas histórias permanecem atuais porque os mecanismos de silenciamento ainda se repetem, em outras formas, contra a comunidade LGBTQIAPN+. Ao resgatar essas memórias, o projeto ativa o Triângulo Rosa como signo de intersecção entre passado e presente: o que antes foi símbolo de exclusão, aqui se torna dispositivo de resistência e visibilidade
Viências
Mateus dos Santos: A dramaturgia apresentada parte de investigações históricas e vivências pessoais. Como essas duas dimensões — o coletivo e o íntimo — se encontram na criação artística do projeto?
Ravana Lobo: Esta dramaturgia nasce no cruzamento entre os documentos censurados da ditadura e nossas vivências pessoais como artistas e pesquisadores LGBTQIAPN+. É nesse ponto que o Triângulo Rosa se torna elo entre o coletivo e o íntimo: um símbolo que foi usado para marcar e exterminar homossexuais nos campos de concentração nazistas, retomado nos anos 1980 como bandeira de resistência quando o HIV/AIDS foi estigmatizado como “câncer gay” ou “câncer rosa”. Assim como naquele período, o teatro nos permite reapropriar o signo da exclusão para transformá-lo em criação, orgulho e visibilidade.
Luta
Mateus dos Santos: Você afirma que a memória é uma ferramenta de luta. Que pontes entre o passado e o presente o público poderá perceber durante o encontro do dia 26?
Ravana Lobo: O público perceberá como os discursos de censura que justificavam cortes em peças por “teor homossexual” dialogam com preconceitos que reapareceram na epidemia de HIV/AIDS, quando chegou-se a cogitar a segregação de homossexuais para conter a pandemia. Essa continuidade revela que a repressão aos corpos dissidentes atravessa décadas. O Triângulo Rosa, que uniu essas memórias de perseguição e resistência, aparece hoje como um convite a reconhecer a luta passada e transformá-la em ação política e cultural no presente.
Papel da arte
Mateus dos Santos: O símbolo do Triângulo Rosa tem uma história de repressão e também de resistência. Qual é o papel da arte, especialmente do teatro, na reapropriação desse símbolo e na construção de orgulho para a comunidade LGBTQIAPN+?
Ravana Lobo: O Triângulo Rosa carrega múltiplas camadas, como mencionado nas outras respostas, e hoje se afirma como signo político de memória e orgulho LGBTQIAPN+. O teatro tem o poder de ressignificar esse símbolo, transformando dor em criação, silêncio em voz e apagamento em presença viva. O orgulho precisa estar presente mesmo depois da imposição de tantas máculas à comunidade LGBTQIAPN+, e sobretudo em um período histórico politicamente polarizado, como o que vivemos. Relembrar essas histórias, que por tantas vezes foram apagadas e/ou diminuídas, é fundamental para que jamais permitamos que algo semelhante se repita. A arte, nesse sentido, é também um chamado à luta por direitos pétreos para a comunidade, direitos que não possam mais ser ameaçados ou retirados, porque são sustentados pela memória, pela resistência e pela visibilidade conquistada a duras penas.
A entrevista com Ravana Lobo revela a profundidade e relevância do projeto Triângulo Rosa: Histórias e Resistência, mostrando como memória, pesquisa e dramaturgia se entrelaçam para resgatar histórias silenciadas da comunidade LGBTQIAPN+ em Goiás. A coordenadora evidencia a continuidade de mecanismos de exclusão e censura, ressaltando o teatro como espaço de resistência, reflexão e reapropriação de símbolos que carregam tanto dor quanto orgulho. Ao reconstruir essas narrativas, o projeto não apenas preserva a memória histórica, mas também engaja o público na compreensão da luta contínua por direitos, representatividade e visibilidade.
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O encontro é uma oportunidade única para o público dialogar com essas histórias, compreender o impacto da censura sobre a criação artística e vivenciar a potência da arte como instrumento de resistência. O Centro Cultural UFG recebe o público no dia 26 de setembro, às 17h30, para participar desta conversa inspiradora, que conecta passado, presente e futuro da comunidade LGBTQIAPN+.
📅 Data: 26 de setembro de 2025
⏰ Horário: 17h30
📍 Local: Centro Cultural UFG
👩💼 Coordenação: Ravana Lobo e Marcus Pantaleão
🎭 Pesquisadores e dramaturgos: Maitê Alves, Paulo Vitor Ferreira, Serena Claus, Ana Flor, Luan Hikari e Tayguara Puri
👐 Tradução em Libras: Lua Xeya
📸 Fotografia: Aires Pinheiro
🎟️ Entrada franca
Categorias: CCUFG Teatro CCUFG Seminário