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Patrimônio Vivo da Música Sacra no Concerto UFG

Maestro Marshal Gaioso fala sobre o concerto do Chorus Instituti Columbani, que une repertório histórico da Semana Santa e estreias contemporâneas de compositores goianos

Chorus Instituti Columbani

O concerto da temporada 2025 do Centro Cultural UFG trouxe ao público uma experiência musical que une tradição litúrgica e contemporaneidade. No dia 25 de setembro, o palco do CCUFG recebe o Chorus Instituti Columbani, sob a direção do maestro Marshal Gaioso, em uma apresentação que percorre séculos de história da música sacra. O programa se divide em duas partes: a primeira dedicada a trechos da Música para o Domingo de Ramos, reunidos pelo Monsenhor Pedro Ribeiro da Silva, em diálogo com autores europeus; a segunda, composta por estreias mundiais de compositores goianos, escritas especialmente para esta temporada.

À frente desse encontro entre passado e presente está o maestro Marshal Gaioso, referência da música erudita no Brasil. Doutor em Musicologia pela University of Kentucky, ele já foi regente titular da Orquestra Sinfônica de Goiânia e regente associado da Orquestra Filarmônica de Goiás, além de professor titular do Instituto Federal de Goiás. Sua trajetória combina a erudição acadêmica com a prática artística, resultando em interpretações que respeitam a tradição e, ao mesmo tempo, revelam novas possibilidades expressivas da música litúrgica.

O concerto marca também um momento de afirmação para o Chorus Instituti Columbani, grupo fundado com o propósito de revitalizar a música sacra a partir da educação musical e do estudo das artes liberais. Com cantores e instrumentistas de sólida formação, o conjunto se dedica à integração entre música e liturgia, atualizando práticas históricas e abrindo espaço para novas criações. Para compreender melhor esse projeto e os caminhos que ele propõe, conversamos com o maestro Marshal Gaioso, que fala sobre o repertório, a importância da música sacra e os desafios de unir tradição e inovação.

 

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Assessoria/Divulgação

 

Entrevista

Mateus dos Santos: O Chorus Instituti Columbani tem uma proposta muito particular, unindo música sacra, liturgia e educação clássica. Como essa identidade se reflete na escolha do repertório para este concerto, especialmente nas estreias contemporâneas?

Marshal Gaioso: A união entre música sacra, liturgia e educação clássica formou-se principalmente na Idade Média e atravessou os séculos, chegando até os nossos dias. Em Goiás, essa tradição se expressou no amplo repertório que era cantado em nossas igrejas desde meados do século XVIII e que, na segunda metade do século XX, quase desapareceu. Digo “quase” porque em cidades como Pirenópolis, Corumbá e, sobretudo, na antiga cidade de Goiás, parte desse repertório resistiu às mudanças litúrgicas e de gosto ocorridas a partir da década de 1970. Atualmente, observa-se uma busca renovada por reconectar-se a esse patrimônio da música sacra católica — movimento perceptível tanto em escala mundial quanto no Brasil. O fato de apresentarmos, neste concerto, obras de três compositores goianos compostas em 2025 e diretamente inspiradas na liturgia do Domingo de Ramos mostra, de maneira clara, como esse patrimônio continua vivo e capaz de inspirar novas criações.

Mateus dos Santos: A primeira parte do programa resgata uma tradição litúrgica centenária do Domingo de Ramos. Como foi o processo de pesquisa e curadoria dessas obras históricas, e qual a importância desse resgate para o público atual?

Marshal Gaioso: Este concerto integra um projeto mais amplo de valorização e preservação da música destinada às celebrações da Semana Santa na Cidade de Goiás. Trata-se de uma iniciativa do Museu da Música da Cidade de Goiás, criado com o propósito específico de resguardar e difundir o legado musical do estado. A obra escolhida para inaugurar esse projeto — e que, de certo modo, marca simbolicamente a abertura do museu — é um precioso manuscrito de 1894, contendo todo o repertório destinado às festividades da Semana Santa, compilado pelo Monsenhor Pedro Ribeiro da Silva. Nesse livro encontram-se composições do próprio Monsenhor, bem como de outros autores, entre os quais alguns de origem europeia. Esses manuscritos vêm sendo objeto de minhas pesquisas e, futuramente, serão publicados em forma de edição crítica, tornando-se acessíveis tanto a estudiosos quanto ao público interessado.

Mateus dos Santos: Quais foram os principais desafios e particularidades na produção deste concerto, que envolve tanto obras históricas quanto composições inéditas de artistas goianos contemporâneos?

Marshal Gaioso: Embora exista uma unidade litúrgica e teológica que confere coesão ao programa, há também uma diversidade estilística marcante entre as obras apresentadas. Inspirados tanto pela própria liturgia quanto, de certo modo, pela expressão musical que o Monsenhor Pedro Ribeiro lhe conferiu, cada um dos três compositores percorreu um caminho próprio. Assim, cada obra reflete uma visão singular — um estilo particular — no modo de dialogar com esse rico legado musical e espiritual.

Mateus dos Santos: Como você vê a contribuição deste concerto para o cenário musical e cultural de Goiânia, especialmente no que diz respeito à valorização da música sacra e da criação artística local?

Marshal Gaioso: Goiânia possui, na atualidade, um dos ambientes musicais mais dinâmicos entre as cidades brasileiras. Contamos com três orquestras sinfônicas em plena atividade, um movimento coral expressivo e um dos mais vigorosos movimentos de bandas do país. Além disso, instituições como a Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, o Instituto Federal de Goiás, o Basileu França, o Centro Cultural Gustav Ritter e o Centro Livre de Artes oferecem formação musical em todos os níveis, desde a iniciação até a pós-graduação. Entretanto, até recentemente não havia na cidade um grupo dedicado especificamente ao repertório medieval e renascentista — em especial ao canto gregoriano. Esse é justamente um dos propósitos do Chorus Instituti Columbani. Desde o início da minha colaboração com o grupo, buscamos também dedicar atenção especial à música sacra goiana dos séculos XVIII e XIX. Acredito que, dessa forma, o trabalho do coro contribui para a valorização e a difusão de um repertório que, de outro modo, permaneceria inacessível ao público goiano.

consertosMaestro Marshal Gaioso

Análise

A entrevista com o maestro Marshal Gaioso revela como o concerto do Chorus Instituti Columbani vai além de uma simples apresentação musical: trata-se de um gesto de preservação, pesquisa e renovação da tradição sacra. O resgate de manuscritos históricos do século XIX, aliado às estreias de compositores contemporâneos, evidencia a intenção de construir pontes entre passado e presente, mostrando que a música litúrgica continua a ser um espaço fértil de criação e diálogo cultural.

Outro aspecto central destacado pelo maestro é a função educativa e cultural do grupo. Ao unir repertórios históricos, canto gregoriano e novas composições, o Chorus Instituti Columbani se posiciona como um elo de continuidade, reforçando a importância de Goiânia como polo musical e cultural. Ao mesmo tempo, promove a redescoberta da música sacra goiana, devolvendo ao público um patrimônio que estava restrito a arquivos e celebrações pontuais.

O público goiano é convidado a vivenciar essa experiência única no Concerto do Chorus Instituti Columbani, que promete emocionar pela beleza das vozes, pela riqueza histórica do repertório e pela força criativa das obras inéditas. Uma oportunidade de encontro entre fé, arte e tradição, reafirmando a relevância da música sacra no cenário contemporâneo.


Serviço 🎶

Concertos UFG – Chorus Instituti Columbani
📍 Local: Centro Cultural UFG – Goiânia
📅 Data: 25 de setembro de 2025 (quinta-feira)
⏰ Horário: 20h

Direção musical: Marshal Gaioso
Organista: Juliano Lima Lucas
Preparação vocal: André Campelo
Cantores: André Campelo, Cassiano Lopes, Felipe Azuma, José Ricardo Eterno, Luiz Fernando Carvalho, Natália Afonso e Priscila Coelho

📖 Programa dividido em duas partes:

  • Primeira parte: Missa para Domingo de Ramos (Pedro Ribeiro da Silva e Giovanni Aldega), com trechos do repertório histórico da Semana Santa.

  • Segunda parte: Estreias contemporâneas de Felipe Azuma, Fernando Cupertino e Juliano Lima Lucas.

 

 

Mateus dos Santos Alves

Mateus dos Santos é estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Goiás e estagiáriaode comunicação no Centro Cultural UFG. Atua com produção de conteúdo e cobertura jornalística de eventos culturais.

Categorias: CCUFG Teatro CCUFG conserto música