Estércio Marquez Cunha encanta o CCUFG com sua música de câmara
O compositor brasileiro apresentou obras inovadoras em diversas formações instrumentais, incluindo a estreia mundial de Música para Eufônio e Piano (2025), no Festival da EMAC/UFG.
Por: Mateus dos Santos

O concerto Estércio Marquez Cunha e sua música de câmara, realizado na segunda-feira (13/10) no Teatro do CCUFG, levou o público a uma imersão única no universo do compositor goiano. Com um programa que percorreu desde duos instrumentais até quintetos e piano a quatro mãos, os intérpretes exploraram a escrita atonal livre de Estércio, suas técnicas estendidas e a invenção de recursos sonoros inusitados, mantendo a atenção do público do início ao fim. Entre os momentos de destaque, a estreia mundial de Música para Eufônio e Piano (2025) emocionou os presentes pela originalidade e inventividade sonora.
A performance contou com músicos de renome e professores da EMAC, incluindo o flautista David Castelo, que se destacou na execução de Música para Flauta e Violão (1996). Cada obra convidava o público a uma escuta ativa, instigando a imaginação e expandindo a percepção auditiva, mostrando que a música contemporânea de Estércio vai muito além do convencional. A combinação de tradição instrumental e experimentalismo reforçou o caráter inovador do concerto, reafirmando a importância do compositor no cenário nacional.
Os Festivais da EMAC continuam celebrando a música e a criação artística com apresentações que unem formação, pesquisa e performance. O concerto de Estércio Marquez Cunha reforçou o compromisso da escola em promover experiências sonoras inéditas e encontros entre artistas e público. Quem esteve presente pôde vivenciar a potência da música contemporânea brasileira e sair do CCUFG com a certeza de que a inovação e a criatividade estão sempre em diálogo com a tradição. Conversamos com Estércio Marquez sobre o evento:

Foto: Assessoria/Divulgação
ENTREVISTA
Mateus dos Santos: O concerto no CCUFG trouxe um panorama amplo da sua música de câmara, incluindo duos, quintetos e piano a quatro mãos. Como você seleciona essas formações e obras para programas como esse?
Estercio Marquez: Quando penso em um programa como esse, procuro construir uma narrativa sonora, quase como se fosse um percurso pela minha trajetória e pelas sonoridades que mais me instigam. Gosto de trabalhar com contrastes — formações pequenas e grandes, timbres tradicionais e recursos estendidos, momentos de silêncio e densidade. No caso desse concerto, a ideia foi mostrar justamente essa variedade da minha escrita camerística, passando por diferentes períodos e abordagens composicionais. Também considero muito os intérpretes envolvidos; costumo escolher obras que dialoguem com a personalidade e a expressividade de cada músico, porque acredito que a interpretação é parte essencial da criação.
Mateus dos Santos: Suas composições exploram técnicas estendidas e procedimentos como camuflagem e reiterações melódicas. Como surgiu essa busca por inovação sonora e quais são suas principais inspirações?
Estercio Marquez: Essa busca nasceu muito naturalmente, de uma curiosidade constante em descobrir novas formas de expressão dentro do som. Sempre me interessei por aquilo que está nas bordas do convencional — ruídos, respirações, timbres que às vezes passam despercebidos. As técnicas estendidas, a camuflagem e as reiterações melódicas são, para mim, maneiras de expandir o campo da escuta, de revelar nuances e gestos que normalmente não aparecem em uma escrita tradicional. Minhas inspirações vêm tanto da música contemporânea europeia, como Ligeti e Berio, quanto da música popular brasileira e da paisagem sonora do Cerrado, que traz uma riqueza de texturas e ritmos muito própria. Gosto de pensar que minha música tenta dialogar com tudo isso, sempre em busca de novos significados para o ato de ouvir.
Mateus dos Santos: A estreia mundial de Música para Eufônio e Piano (2025) marcou o concerto. Pode nos contar sobre o processo de criação dessa obra e o que você espera que o público experimente ao ouvi-la?
Estercio Marquez: Essa obra surgiu de uma colaboração muito próxima com o intérprete, a partir do desejo de explorar o eufônio em toda a sua expressividade, indo além do papel tradicional que ele costuma ocupar. Durante o processo, experimentei diferentes texturas, respirações e articulações, buscando uma escrita que revelasse tanto a potência quanto a sutileza do instrumento em diálogo com o piano. É uma peça que convida o ouvinte a mergulhar em um fluxo sonoro em constante transformação, onde cada gesto parece nascer e se dissipar no mesmo instante — uma experiência de escuta mais contemplativa, voltada para o detalhe e para o instante.
Mateus dos Santos: Como você enxerga a importância do Festival da EMAC para a música contemporânea brasileira e para a formação de jovens intérpretes e compositores?
Estercio Marquez: O Festival da EMAC tem um papel fundamental na difusão da música contemporânea brasileira e na formação de novas gerações de artistas. É um espaço de experimentação, de troca e de escuta, onde intérpretes e compositores podem se arriscar, propor e aprender juntos. A convivência com diferentes estéticas e processos criativos amplia a visão artística dos estudantes e fortalece o senso de comunidade dentro da música contemporânea. Além disso, o festival reafirma o compromisso da universidade com a arte viva — aquela que está sendo feita agora, que questiona, provoca e renova o nosso modo de pensar o som e a criação.
ANÁLISE
As respostas de Estercio Marquez revelam um compositor profundamente conectado à experimentação sonora e à escuta atenta como eixo de criação. Sua fala destaca uma visão artística que une rigor técnico, curiosidade estética e diálogo constante com os intérpretes — elementos que sustentam uma obra em permanente transformação. Ao abordar suas influências e processos, Estercio reafirma o compromisso com uma música que ultrapassa fronteiras, unindo tradição e inovação em um mesmo gesto criativo.
O Festival da EMAC segue com uma programação diversa, repleta de concertos, master classes e apresentações que evidenciam a vitalidade da produção musical contemporânea. O público é convidado a participar das próximas atividades no Centro Cultural da UFG e a vivenciar de perto a força criadora dos artistas, professores e estudantes que fazem da música um espaço de encontro, pesquisa e descoberta.

Mateus dos Santos é estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Goiás e estagiário de comunicação no Centro Cultural UFG. Atua com produção de conteúdo e cobertura jornalística de eventos culturais.
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